Por que as crianças e os adolescentes normalmente têm a carteira vacinal em dia e os adultos, na maioria dos casos, não? Certamente há mais de um motivo para que isso ocorra, desde situações como a dificuldade de acesso até a falta de informação. A meu ver, ainda é comum deixarmos de usufruir os benefícios de alguns imunizantes simplesmente por não saber que existem ou ignorar que podemos nos beneficiar deles. Não faz muito tempo, fui surpreendida pela constatação de que um grande número de pessoas desconhece a possibilidade – e a necessidade – de se proteger do herpes zóster na idade adulta. Na verdade, poucos sabem que o responsável por essas manifestações tardias de herpes zóster é o mesmo vírus que causa a catapora durante a infância, o vírus Varicela Zóster (VVZ), que fica latente no organismo depois da catapora e pode sofrer uma reativação.

A medicina ainda não conseguiu desvendar completa mente o que desencadeia os episódios tardios de herpes zóster, mais frequentes após os 50 anos e também em pessoas imunocomprometidas. Pertencem a este grupo de indivíduos com baixa imunidade aqueles que vivem com HIV, estão em tratamento de certos tipos de câncer, já fizeram ou farão transplantes de medula óssea e outros órgãos ou, ainda, apresentam doenças como lúpus, artrite reumatoide e esclerose múltipla.

Um dos sintomas mais clássicos do herpes zóster é o surgimento de uma faixa com lesões vesiculares na região do tronco, nas costas ou embaixo do peito. Primeiro vem a sensação de formigamento, a coceira e, por fim, as lesões e as dores. Depois que elas ir rompem na pele e cicatrizam, o doente pode ainda enfrentar algumas complicações se a doença não for contida rapidamente com uso dos antivirais e outros medicamentos indicados. Uma delas é a neuralgia pós-herpética, quadro de dor que acompanha o trajeto das terminações nervosas e pode durar meses.

Sofrer um episódio de zóster não evita que a pessoa venha a ter outros e não ameniza seu impacto. Estudos mostram que um episódio da doença influencia negativamente muitos aspectos da saúde, incluindo sono (64% das pessoas), prazer de viver (58%) e atividades gerais (53%). Por tudo isso, a melhor chance de prevenir o problema é se imunizar. Mais uma boa razão para tomar a vacina é o crescimento de mais de 35% nas notificações de novos casos de herpes zóster durante a pandemia da Covid-19.

Nós, infectologistas, recomendamos que as pessoas com alguma predisposição à doença considerem tomar a vacina. Existem, atualmente, duas opções de vacina contra o herpes zóster disponíveis no Brasil, feitas com tecnologias diferenciadas e indicações específicas. A primeira e mais antiga (Zostavax, da farmacêutica MSD) é feita com vírus enfraquecidos ou atenuados. Em dose única, sua proteção está estimada em torno de 50%, ou seja, faz cair pela metade a chance de apresentar a doença. Ela é indicada para pessoas acima de 50 anos e não deve ser dada a indivíduos imunodeprimidos, pois existe o risco de que o vírus atenuado possa causar uma infecção com sintomas similares à catapora ou varicela.

A vacina mais atual foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no final do ano passado e chegou à Dasa, a maior rede de saúde integrada do Brasil, no final de junho. A Singrix (GSK) é produzida com uma proteína do vírus replicada em laboratório e somada a uma substância adjuvante para estimular a resposta imune. Como carrega apenas uma porção do vírus, e não o vírus todo, não oferece risco de provocar sintomas semelhantes aos da doença. Pode ser administrada a pessoas acima dos 50 anos, quem já teve herpes zóster e a pacientes imunodeprimidos. Segundo os fabricantes (GSK), a eficácia pode chegar a 97% na população acima de 50 anos. A imunização completa só ocorre após duas doses, com intervalo de dois meses entre elas.

*Dra. Maria Isabel de Moraes Pinto, infectopediatra e consultora em vacinas da Dasa