A cantora e violeira Marilene Galvão morreu na tarde desta quarta-feira (24), em São Paulo. Ela, que tinha 80 anos de idade, formou por 74 anos a dupla Irmãs Galvão — posteriormente chamada de As Galvão — com a irmã Mary.

Marilene havia sido diagnosticada com Alzheimer há mais de uma década. Com o agravamento da doença, a dupla As Galvão chegou ao fim no ano passado. De acordo com Mary, Marilene não lembrava mais das letras das músicas. A informação foi dada em entrevista ao canal de André Piunti no YouTube.

A causa da morte de Marilene não foi divulgada pela família. Ela estava internada no Hospital Professora Lydia Storópoli, no bairro paulistano da Liberdade. O velório e o sepultamento do corpo estão programados para esta quinta-feira (25), no município de Paraguaçu Paulista (SP).

As Irmãs Galvão no início da carreira — Foto: Reprodução / Site oficial As Galvão

Em parceria com Mary, Marilene formou a dupla ainda quando criança, em 1947. Os primeiros trabalhos foram na terra natal das duas: o interior paulista, com apresentações em emissoras locais de rádio. Marilene era natural de Palmital, enquanto a sua irmã (dois anos mais velha) nasceu em Ourinhos.

Além do fato de terem surgido no interior, As Galvão tiveram a sua carreira artística ligada à vida no campo e as passagens rurais. Com mais de 30 álbuns gravados, a dupla valorizava o modo “caipira” em nomes e letras de algumas canções.

Na lista de músicas interpretadas pela dupla As Galvão sobre quem vive e trabalha no interior e locais não urbanos estão, por exemplo:

  1. Rincão Guarani (1955);
  2. A rosa e o jasmim (1956);
  3. Alecrim da beira d’agua (1956);
  4. Cabocla do Paraná (1957);
  5. Roseiral do amor (1957);
  6. Pobre carreteiro (1958);
  7. Zé da Estrada (1962);
  8. Riozinho (1979).

“Meu rio pequeno, braço líquido dos campos / Rodeado de barrancos, corroído pelos anos / Vai arrastando folhas mortas de saudade / Por-do-sol de muitas tardes, ilusões e desenganos” — Versos iniciais da canção “Riozinho”

Museu no interior de São Paulo

memorial irmãs galvão

Foto: Prefeitura de Paraguaçu Paulista (SP)

A obra construída em mais de sete décadas de carreira na música sertaneja fez com que a dupla formada por Mary e Marilene inspirasse a construção de um museu. Inaugurado em 2013 e desde então mantido pela prefeitura de Paraguaçu Paulista, o Memorial Irmãs Galvão reúne “um acervo composto por várias fotografias, troféus, discografia e instrumentos musicais, que mostram a trajetória de vida e sucesso da famosa dupla.”

Fã clube lamenta a morte

mary e marilene - as galvão

Mary e Marilene (direita), as irmãs da dupla As Galvão | Foto: Site oficial da dupla

Fã clube de As Galvão, o perfil @fcasgalvao, do Instagram, foi um dos primeiros a divulgar o falecimento de Marilene Galvão. E lamentou a partida da artista chamada de “Rainha Soberana”. “Acreditamos que nossa menina descansou, e em um bom lugar desfrutará do seu descanso”, postou a equipe da página.

COMUNICADO OFICIAL❗️
Caríssimos fãs das Galvão…
É com grande pesar que através dessa mensagem, comunicamos o falecimento, às 14:30 em São Paulo, da nossa Rainha Soberana Marilene Galvão

Carreira

Ao longo da carreira, a dupla lançou 80 discos. O fim da dupla foi anunciada por Mary Galvão em entrevista a André Piunti, publicada no YouTube em 19 de junho de 2021. O motivo do término era o avanço do Alzheimer que obrigou Marilene a se retirar de cena pela perda total de memória.

A dupla, que surgiu em 1947, se consagrou como pioneira no universo da música caipira. As irmãs entraram no ramo como sendo as duas primeiras mulheres do cenário sertanejo, então dominado pelo elenco masculino.

Além de cantar, Mary Galvão – nascida em Ourinhos (SP) em 1940 – tocava sanfona na dupla. Já Marilene Galvão – nascida em Palmital (SP) em 1942 – tocava viola enquanto unia a voz com a da irmã em músicas como Beijinho Doce (Nhô Pai, 1945), clássico sertanejo lançado pelas Irmãs Castro, mas desde sempre associado às vozes das irmãs Galvão.

Quando entraram em cena na Rádio Club Marconi de Paraguaçu Paulista (SP), em 1947, com sete e cinco anos, respectivamente, Mary e Marilene certamente nem sonhavam em pavimentar trajetória tão longa na música sertaneja.

De rádio em rádio pelo interior paulista, as irmãs acabaram contratadas pela RCA Victor, gravadora na qual debutaram em 1955, ano em que as Galvão registraram, em disco de 78 rotações por minuto, as músicas Carinha de Anjo (Paschoal Yanuzzi e Fábio Mirhib) e Rincão Guarani (Maurício Cardozo Ocampo, Diogo Mulero Palmeira e Centorion).

Começou, naquele ano, a bem-sucedida trajetória fonográfica pavimentada pelas gravações de toadas, modas de viola e rasqueados, gêneros musicais recorrentes no universo sertanejo. As irmãs Galvão gravaram discos com regularidade até o fim da década de 1980.

A partir dos anos 1990, a discografia foi ficando cada vez mais espaçada na medida em que a dupla passava a ser cada vez mais reconhecida pelo fato de, no rastro das Irmãs Castro, Mary e Marilene terem imprimido assinatura vocal feminina na música sertaneja quando que somente os homens cantavam modas caipiras.

Essa trajetória pioneira foi celebrada em 2017, ano em que as Galvão festejaram sete décadas de carreira, com a edição do DVD “Soberanas – 70 anos ao vivo” e com o documentário “Eu e minha irmã – A trajetória das Irmãs Galvão”, dirigido por Thiago Rosente.

fonte: canalrural, g1