Em 2017, o Rock in Rio decidiu pela primeira vez na história criar um espaço específico para a realização de shows de YouTubers.

A escolha dividiu opiniões. O público mais ortodoxo e com idade superior aos 30 anos, discordou da ideia do Digital Stage. No entanto, os mais jovens aprovaram e lotaram as apresentações. Afinal, foi pensando neles que a área foi criada.

E não é para menos. YouTubers também são estrelas pop. Em lista recentemente divulgada pelo Google, Whindersson Nunes lidera o top 10 de celebridades mais influentes do País. Flavia Calina, Julio Cocielo, Felipe Castanhari e Felipe Neto são outras celebridades da área digital que aparecem no levantamento ao lado de figuras com anos de estrada na TV, como Rodrigo Faro, Lázaro Ramos, Taís Araújo, Juliana Paes e Paolla Oliveira.

O estudo explica que o público desse tipo de personalidade cresce constantemente por conta da identificação que existe entre os fãs e o ídolo. Como o conteúdo é baseado em fatos cotidianos, isso gera uma aproximação. “Somos mais influenciados por pessoas próximas do que por celebridades. É um fato comprovado. É mais legal ver alguém falando sobre perrengues na escola do que uma celebridade visitando a casa da outra. Com isso, os youtubers e instagramers estão ganhando mais espaço em todos os meios, inclusive nos tradicionais, que tentam se apropriar disso de alguma forma”, comenta o publicitário Matheus Laneri, que também está por trás do conteúdo de canais e páginas como O Brasil Que Deu Certo e Legado da Copa.

E o resultado são milhões de seguidores nas redes sociais. Inacreditavelmente, muitos deles conseguem superar bandas conhecidas internacionalmente nessas plataformas, como Bon Jovi, Maroon 5 e Justin Timberlake.

Foi isso que levou Roberto Medina a tomar a decisão polêmica de escalar esses nomes para o evento. Em nota, o vice-presidente do Rock In Rio justificou a decisão. “O projeto surgiu com a proposta de promover a cultura digital levando conteúdos de entretenimento do universo online para o offline de maneira adaptada, atendendo assim a demanda do público mais jovem num espaço mais intimista dentro da Cidade do Rock”, analisou Roberto Medina.

E aparentemente, acertou. O show que Whindersson Nunes fez no evento foi um dos mais lotados e aguardados dessa edição.

A ideia de levar esses representantes também tem a ver com o fato do evento ser familiar. Com ídolos digitais que dialogam com crianças e adolescentes se misturando a bandas consagradas e admiradas pelos pais e jovens adultos, o Rock In Rio conseguiu agradar várias faixas de idade, fato raro em um festival musical nacional.

Bon Jovi: com trinta anos de estrada, banda é menos vista que youtubers nas plataformas de vídeos
Bon Jovi: com trinta anos de estrada, banda é menos vista que youtubers nas plataformas de vídeos Reprodução/Instagram

Sucesso no mercado editorial

A existência do palco Digital Stage confirmou ainda mais o que aconteceu recentemente na Bienal, com o sucesso absoluto do lançamento de livros de Youtubers. “Eles realmente saíram do digital e mobilizam muita gente no meio off do entretenimento. Acredito que o caminho para a fama mundial é um pouco mais longo, mas eles estão cientes do tamanho e da influência que exercem. Acho que acabam investindo também em negócios e expandindo a visão, não focando tanto em uma carreira internacional como prioridade”, analisa a publicitária Ellen Rodrigues.

“Os festivais apostam no que está bombando e fazendo barulho. Propor uma experiência completa, muito além do assistir a um show, é uma pauta crescente. As marcas patrocinadoras reforçam levando influenciadoras do Instagram, Twitter. Acredito que a música não perderá o foco principal, apesar de todos esses complementos”, completa ela.

Na Bienal do Rio, que aconteceu em agosto, dos dez livros mais vendidos pela Saraiva, oito são de youtubers, mostrando a força desses famosos na atualidade. No topo da lista, Felipe Neto é seguido por Neagle (Victor Trindade e Gabriel Fernandes) e Kids fun (Luiz Phellipee e Rafaella Baltar). Os únicos não-youtubers do top 10 são Lázaro Ramos e Larissa Manoela.

“Youtubers e Instagramers já são sim mais relevantes que muitos músicos e artistas em geral. Veja o show do Whindersson no Rock in Rio, por exemplo. É um artista que não é músico em si, mas conseguiu angariar e prender uma plateia só por conta do seu talento e fama. Whindersson, Kéfera, Castanhari, entre outros, são as estrelas de uma década digital”, resume Matheus Laneri.

fonte: r7