O tsunami eleitoral de domingo, dia 7, vai provocar profundas mudanças no cenário da politica nacional. A partir de 2019, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal ficarão com cara nova. No Senado, o índice de renovação chegará a 85%. Das 54 cadeiras que foram disputadas no domingo, só oito será ocupada por reeleitos. O restante – 46- está reservado para novos senadores.

Na Câmara, as mudanças chegarão a 47,7%, a maior renovação em duas décadas. A partir de 1° de fevereiro de 2019, a Casa receberá 243 deputados novos. Em meio aos 444, que concorreram á reeleição, 251 (56%) tiveram o retorno chancelado pelos eleitores.

Velhos e famosos caciques que durante anos seguidos, mandaram e desmandaram neste país, foram escorraçados pelos eleitores para o ostracismo, ao negar-lhes os votos para a reeleição. Todos os partidos considerados grandes tiveram reduzidos sensivelmente suas bancadas na Câmara e no Senado. Legendas menores, consideradas nanicas, cresceram.

Jair Bolsonaro transformou-se no maior cabo eleitoral das eleições. Seus filhos foram eleitos, com expressivas votações, para o Senado pelo Rio de Janeiro, e para a Câmara dos Deputados pelo Estado de São Paulo.

O PSL, que bancou a candidatura presidencial de Bolsonaro, foi o partido que mais cresceu na Câmara, com 52 deputados. Na sua frente ficou apenas o PT, com 56 deputados. Em seguida ficaram o PP, 37 deputados; MDB 34, PSD 34; PSB, 32; PRB, 30; DEM, 29 e PSDB, 29.

Somando os deputados eleitos que participaram da campanha do PSL, Jair Bolsonaro, se for eleito, contará com o apoio de pouco mais de 300 deputados, no plenário da Câmara, que lhe assegurará a governabilidade. Isso significa também que o grupo pró- Bolsonaro reunirá condições para eleger o novo presidente da Câmara e comandar as principais comissões temáticas da casa. O novo governo terá ainda caminho aberto para as votações das importantes propostas que vierem a ser formuladas.

Dos 35 partidos registrados na Justiça Eleitoral, 14 não conseguiram atender as exigências da cláusula de barreira. Certamente elas perderão os recursos do Fundo Partidário e ficarão de fora do tempo de televisão e radio até a próxima eleição, que será a municipal em outubro de 2020. As siglas deveriam alcançar o desempenho com o mínimo de 1,5% dos votos validos nacionais, ou eleger ao menos nove deputados federais em nove das 27 unidades da Federação. Entre essas bancadas barradas estão a Rede, de Marina Silva; o PCdoB, de Manoela D’Avila, candidata a vice-presidente de Fernando Haddad e o PRTB, único aliado oficial de Bolsonaro no primeiro turno.

MULHERES AVANÇAM

O número de mulheres eleitas deputadas federais aumentou 41% segundo o Tribunal Superior Eleitoral. A partir de 2019, serão 75 parlamentares contra 51 nas eleições de 2014. A quantidade ainda é pequena, corresponde a 14,6% dos 513 deputados eleitos para a Câmara. O Distrito Federal se destacou nessa corrida, elegendo cinco mulheres para suas 8 vagas na Câmara.

A única deputada federal eleita pela Rede, de Marina Silva, em todo país, foi a advogada Joenia Wapichana, de Roraima, primeiro indígena eleita na historia do Congresso Nacional.

Em São Paulo, para a Assembleia Legislativa do Estado, foi eleita a advogada Janaina Paschoal, com uma votação recorde de quase dois milhões e 200 mil votos. Ela ganhou destaque nacional quando participou, como advogada de acusação, no processo realizado no Senado que culminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Janaina Paschoal, por motivos pessoais, deixou de ser a candidata a vice- presidência na chapa de Jair Bolsonaro.

DERROTA DE SENADORES FAMOSOS

Senadores que por muito tempo dominaram o cenário da politica nacional foram atingidos em cheio pelo tsunami eleitoral de domingo.

Eunicio de Oliveira (MDB) e Cassio Cunha Lima (PSDB), respectivamente presidente e vice-presidente do Senado, não conseguiram suas reeleições no Ceará e na Paraíba. Ficaram na estrada sem votos suficientes para se manterem no Senado os senadores Cristovam Buarque (PPS-DF), Roberto Requião (MDB-PR), Magno Alves (PR-ES), Ricardo Ferraço (PSDB-ES), Edson Lobão (MDB-MA), Lindeberger Farias (PT-RJ), Paulo Bauer (PSDB-SC), o senador Romário (Podemos- RJ), a senadora Graziotin (PCdoB), Valdir Raupp (RR) e Jorge Vianna (PT-AC).  Entre os senadores, a derrota mais massacrante e comemorada foi de Romero Jucá, em Rondônia. Ele perdeu por uma diferença de apenas 426 votos. Juca, durante os 24 anos que permaneceu no Senado sempre foi o senador escolhido para cumprir as mais diversas missões, principalmente as destinadas para o mal. Sem nenhuma personalidade, foi líder no Senado dos governos FHC, de Lula, Dilma Rousseff e por ultimo do presidente Michel Temer.

Digno de registro foi a barragem histórica dos eleitores de Minas Gerais à eleição de Dilma Rousseff para o Senado Federal.

No Maranhão, a família do ex-presidente Sarney foi varrida do Estado. Não conseguiu eleger a filha Roseane para o governo do Estado nem o deputado Sarney Filho para uma vaga no Senado, além de não renovar o mandato do senador Edson Lobão.

O senador Renan Calheiros, o politico com o maior número de processos tramitando no Supremo Tribunal Federal, foi salvo pelo congo. Rompeu com seu partido, o MDB, e fez acordo com o PT do ex-presidente Lula, conseguindo ser eleito como o segundo senador de Alagoas.

Os ex-governadores tucanos Marconi Perfilo, em Goiás, e Beto Richa, no Paraná, ficaram fora do Senado, por ausência de votos.

A rejeição aos velhos caciques pode ser interpretada como os eleitores querendo mais saúde, educação, segurança pública de qualidade. É que o Congresso tem de trabalhar em favor da sociedade e não em prol de políticos que só pensam no seu enriquecimento.