O Jornal 101 solicitou a Maria de Fátima Costa Mattos, educadora e historiadora da arte, Doutora em Artes pela EC/USP(SP), Mestre em História pela UNESP de Franca(SP), Pesquisadora do IPCCIC- Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais e do Programa de Pós-Graduação Mestrado do Centro Universitário Moura Lacerda um texto sobre o dia 15 de novembro. Confira!

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Até o final do século XIX o Brasil era um país essencialmente rural. As cidades brasileiras oriundas da estrutura colonial portuguesa servia como canal de escoamento da produção agrícola dirigida à metrópole. O Rio de Janeiro era o eixo portuário da articulação da lavoura escravista de café.

Somente na segunda metade do século XIX, é que o processo de transformação do país em uma sociedade urbana começou a se manifestar, a partir do desenvolvimento econômico e da mudança social. Para isso colaboraram alguns fatores como a abolição da escravatura, aumento da mobilidade social e da demanda de mão-de-obra, maior eficiência dos transportes por meio de uma política ferroviária, melhoria da exploração das vias marítimas e fluviais, bem como da configuração da rede viária respondendo às  exigências da produção. Foram acontecimentos que marcaram a vida brasileira originando modificações não só nas instituições, nos hábitos e costumes, na vida cotidiana das famílias, como demais outras corridas nas ultimas décadas desse século, pelo desenvolvimento do processo de urbanização e industrialização e, a Proclamação da República.

O advento da República trouxe uma série de mudanças na estrutura econômica, social e urbana no Brasil. A educação passou a ser caracterizada por um caráter público, laico e universal, requerendo uma busca pela escolarização, em atendimento a nova ordem republicana. Nessa época, a quantidade de pessoas que vivia nas cidades era relativamente pequena, somente no final da primeira metade do século XX é que podemos perceber um equilíbrio entre o campo e a cidade. Este período foi marcado pelo aumento da população urbana e trouxe como consequência, a introdução de novas tecnologias na agricultura, o redimensionamento da economia e a reconfiguração social, cultural e demográfica.

A escola, no entre séculos, era representada pelo pensamento de intelectuais influenciados pelo Iluminismo. Dessa forma, tudo deveria ser explicado à luz da razão e da ciência, cabendo à educação um papel redentor. A educação estava, assim, associada ao desenvolvimento da economia que tinha entre os seus desafios a erradicação do analfabetismo, a universalização do ensino primário, a ampliação da obrigatoriedade escolar e a aplicação de novos rumos à formação de professores.

Assim, ao ser configurada sob esses novos padrões, longe dos antigos e insalubres casebres, essa escola não tardou a ser substituída por edificações mais modernas e condizentes com as novas concepções educacionais, dando origem aos Grupos Escolares, como é o caso do “Primeiro Grupo”, hoje conhecido por EEPGrau Coronel Vaz. A construção desses edifícios específicos para os grupos escolares era uma preocupação das administrações de estado que encontravam um espaço privilegiado para a sua edificação, não só nas capitais, mas, também, nas cidades economicamente prósperas e politicamente fortes, tornando-se assim, a representação de um momento em que a educação e a formação de cultura eram importantes e sobre a qual repousava o ideal Republicano.

No âmbito das instituições tanto as estatais como as da sociedade civil (a igreja, a escola, sociedades históricas e outras), devemos lembrar que excetuando as vozes do poder vindos das instituições estatais misturaram-se as lutas operárias dos sindicatos, as discussões pela valorização do trabalho e dos professores, como ainda hoje, muitas delas se processam nas universidades.

Portanto, a Proclamação da República representou uma reviravolta contra o conservadorismo, e o ideal do federalismo representativo passou a encarnar trouxe um rompimento com estado anterior em que o país caminhava (a Monarquia).

A implantação da República permitiu a liberdade de expressão, a liberdade do estado com relação a Igreja, a liberdade de escolha que só veio a amadurecer décadas depois, mas de qualquer forma a Republica encarnou isso tudo num processo de quebra de paradigmas não só nos meios políticos mas, cultural e social. Inaugurou um novo modelo de cidadania no Brasil que no seu cerne estava uma educação publica e gratuita.